Depois do Banco Central Europeu (BCE) admitir um aumento nas taxas de juro diretoras, a Euribor subiu e vai continuar a subir. Portugal é um dos países cuja subida tem sido mais acentuada. As famílias portuguesas vêm agora o seu orçamento afetado, com mais encargos, especialmente, as que possuem um crédito habitação, com taxa variável.
Após meses em mínimos históricos, a taxa Euribor passou para valores positivos, e para um estado especialmente volátil. A guerra da Ucrânia gerou várias consequências financeiras, como a inflação na zona euro. Como resposta, o Banco Central Europeu (BCE) adotou uma política financeira mais rígida e austera.
A 4 de fevereiro, o BCE admitiu a possibilidade de subir as taxas de juro diretoras, mudando o rumo da economia europeia. A partir desse momento, as taxas Euribor começaram a subir de forma mais significativa.
A Euribor (Euro Interbank Offered Rate) é a taxa de juro paga pelos bancos da zona euro, por emprestarem dinheiro. Normalmente, os contratos de crédito à habitação em Portugal estão indexados a esta taxa, pelo que a Euribor serve de referência. A taxa não é fixa, encontra-se sujeita a oscilações diárias constantes, que mudam tendo em conta a média das taxas de juro dos 57 bancos mais ativos da zona euro.
Novos máximos
No dia 21 de dezembro, as taxas Euribor a três, a seis e a 12 meses subiram para novos máximos desde janeiro de 2009.
Fonte: Instituto Nacional de Estatística
No prazo de três meses, a taxa esteve negativa desde o dia 21 de abril de 2015, e entrou em terreno positivo a 14 de julho. Avançou ao ser fixada em 2,102%, mais 0,021 pontos. Em outubro, a média Euribor a três meses estava em 1,428%, subindo para 1,825% em novembro.
A taxa a seis meses entrou em rota ascendente a 6 de junho, depois de seis anos e sete meses negativa, desde novembro de 2015. Agora, subiu, pela quarta sessão consecutiva, para 2,645%, mais 0,020 pontos. A média da Euribor a seis meses passou de 1,997% em outubro, para 2,321% em novembro.
Após ter disparado em abril para 0,005%, pela primeira vez positiva desde abril de 2016, a Euribor a 12 meses tem-se mantido, desde então, positiva e com um crescimento contínuo. Em outubro, a média da taxa avançou de 2,629% para 2,828%, em novembro.
As taxas Euribor atingiram os mínimos de sempre, em todos os prazos, a 14 de dezembro de 2021. Com valores registados de -0,605% (três meses), -0,554% (seis meses) e -0,518% (12 meses).
Mercado português
Em dezembro de 2021, uma família que pedisse um empréstimo, em Portugal, para comprar casa pagava, em média, uma taxa de juro de 0,83%. Em outubro de 2022, menos de um ano depois, este valor mudou: subiu para 2,86%. Entre todos os países da zona euro, este foi o aumento mais evidente.
Fonte: Banco Central Europeu
O mercado do crédito à habitação em Portugal é gerido tendo em conta a taxa variável indexada à Euribor (mais de 90% dos contratos). O prazo a seis meses é o contrato mais comum. A taxa de juro anual média nos novos empréstimos para comprar casa sofreu um incremento de 2,03 pontos. Um resultado superior ao registado na média da zona euro (1,29 pontos percentuais) e mais expressivo que os restantes 19 países da moeda única europeia.
O agravamento das prestações mensais das famílias com crédito à habitação vai variar consoante algumas variáveis: o valor do empréstimo, o prazo de pagamento e o spread do contrato (a margem comercial aplicada pelo banco a cada cliente e que soma ao indexante para perfazer a taxa de juro global do crédito).
Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o valor médio da prestação dos contratos mais recente aumentou 18 euros no mês de novembro, resultando num valor total de 507 euros. Este número corresponde ao “valor mais elevado da série disponível”.
Algo se destaca nos novos contratos é a queda do montante médio em dívida, valor que contrasta com o aumento notório do conjunto da carteira de crédito. Nos contratos realizados nos últimos 3 meses, o montante médio em dívida foi de 129 164 euros, menos 1464 euros do que no mês de outubro. No que diz respeito à totalidade dos contratos, subiu 250 euros em relação ao mês anterior, estabilizando-se em 61 763 euros.
Estes dados são explicados pela diminuição do valor dos novos empréstimos, uma consequência da subida das taxas de juro. Estas taxas limitam o montante que os bancos podem emprestar e resultam em alguma apreensão, por parte dos consumidores, em relação à situação atual.
Já o aumento do capital em dívida no conjunto dos contratos explica-se pelo aumento da componente de juros e pelo valor dos novos contratos. Frequentemente, estes são de uma quantia bem mais elevada. Este é um resultado menos óbvio da subida das taxas de juro, visto que a atenção está na concentrada na subida global das prestações e não tanto na sua decomposição.
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