A célebre expressão levou o candidato do Partido dos Trabalhadores ao Planalto, 12 anos depois. A vitória foi conseguida com a menor margem desde a redemocratização brasileira e os resultados mostraram um Brasil dividido entre “lulistas” e “bolsonaristas”.
Foi entre acesas trocas de acusações e batalhas travadas no digital que se deu a campanha para as presidenciais de 2022. A par do “L”, que vingou na campanha de Lula da Silva, uma das frases mais ouvidas e cantadas nas redes sociais foi “Vai dar PT”. E deu. O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) derrotou Bolsonaro, com 50,9% dos votos, contra 49,1%. A margem foi mínima, mas foi suficiente para garantir o regresso de Lula da Silva ao Palácio do Planalto, 12 anos depois.
O país colocou Lula e Bolsonaro frente a frente, a 30 de outubro, e os resultados foram históricos: o candidato do Partido Liberal (PL) tornou-se no primeiro presidente em funções a falhar a reeleição e Lula da Silva é o primeiro chefe de Estado a voltar ao cargo, anos depois. É uma eleição inédita, também, pela margem de vitória: foi a menor desde a redemocratização.
A reação de Bolsonaro aos resultados só chegou passados 2 dias das eleições, a 1 de novembro, num breve discurso. O presidente cessante não felicitou o adversário pela vitória nem reconheceu de forma clara a sua derrota. Ainda durante o período de campanhas, já se fazia adivinhar uma reação como a que se verificou, dada a insistência do candidato na falibilidade do voto eletrónico.
Confira os resultados por Estado:
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. Infografia: Hugo dos Santos
O Brasil herdado por Lula
O país que Lula vai liderar, é diferente daquele entregou a Dilma Rousseff, em 2011. Enfrenta uma profunda divisão social e uma divisão política sem precedentes.
Terá de lidar, ainda, com uma crise económica a vários níves, com a taxa de inflação a bater recordes e uma previsão de crescimento entre as menores da América do Sul, com mais de 15 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave - dados do mais recente relatório da ONU sobre segurança alimentar e nutrição - e um sistema de saúde fragilizado.
Soma-se a crise ambiental, agravada pela desflorestação de que a Amazónia tem sido alvo nos últimos anos.
O olhar atento do mundo junta-se ao olhar de esperança de milhões de brasileiros que vêm em Lula a oportunidade de inverter decisões tomadas nos últimos anos.
A tomada de posse
E se a vitória de Lula foi histórica, a tomada de posse não ficou atrás: foi a primeira em que o presidente cessante não marcou presença na cerimónia, a 1 de janeiro.
Bolsonaro ausentou-se do país dois dias antes, numa viagem para os Estados Unidos da América. Deu, assim, um sinal claro de falta de interesse na passagem da pasta a Lula da Silva. No seu discurso, o novo chefe de Estado procurou passar uma mensagem de “esperança e reconstrução” de um Brasil que terá sido devastado pela governação de Bolsonaro. O presidente recém-empossado fala ainda do fim do “pesadelo” de uma “era de escuridão, incerteza e grande sofrimento”.
O grande desafio será, contudo, o cumprimento da promessa de unidade. “Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras e não apenas para quem votou em mim. Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado”, garantiu Lula da Silva.
Até ao dia da tomada de posse, o porte de armas esteve suspenso em Brasília, após Lula ter sido alvo de ameaças por parte de grupos pró-Bolsonaro. Na sequência de um pedido feito pela equipa do atual presidente, o Supremo Tribunal Federal tomou a decisão, justificada pelo juíz Alexandre de Moraes com base em eventos que teriam ocorrido em Brasília nas duas semanas que antecederam a tomada de posse.
A cerimónia teve, por isso, uma cobertura policial de grande dimensão, dados os riscos para a integridade física do candidato vencedor. Ainda assim, Lula optou por desfilar sem colete anti-balas e num carro descapotável.
Outro momento que marcou o evento, foi a realização de um minuto de silêncio pela morte de Pelé, falecido a 29 de dezembro. A tomada de posse procurou assinalar a diferença face a eventos passados e enviar um sinal de aplicação prática do discurso do presidente. Fê-lo através da representação de vários grupos da sociedade na entrega da faixa presidencial a Lula da Silva - uma criança da periferia, um homem indígena, um jovem portador de deficiência, um operário, entre outros. O símbolo da transição do poder passou de mão em mão por todos os representantes de minorias étnicas e sociais, até chegar ao presidente recém-eleito.
A representar Portugal na cerimónia oficial, estiveram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho. Também José Sócrates, ex-primeiro-ministro português, marcou presença na cerimónia, como convidado pessoal de Lula.
A cumprir-se os quatro anos previstos, o terceiro mandato do candidato do PT termina em dezembro de 2026.
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