No passado dia 9 de dezembro, a polícia federal da Bélgica abriu buscas em várias moradas de Bruxelas a propósito de uma investigação que teria começado alguns meses antes. O âmbito desta investigação era o tráfico de influências no Parlamento Europeu que se revelou rapidamente no maior escândalo de corrupção de qualquer das agências Europeias de sempre.
Encabeçando o escândalo está a eurodeputada Grega e vice-presidente do PE, Eva Kaili (do grupo dos Socias e Democratas), que, apesar de uma rede cada vez maior de suspeitos e malas cheias de dinheiro vivo totalizando 1,5 milhões de euros oriundos dos governos do Qatar e de Marrocos, permanece a sua figura principal, o que não é irrelevante.
Apesar da história quase merecedora de um filme do James Bond dado os altos quadros envolvidos e quantidades avulsas de numerário, a notícia apareceu tão rápido como desapareceu dos círculos noticiosos e da nossa mente coletiva.
Este momento que nos lembra (finalmente) a Europa mostra o quão desinteressados estão os cidadãos europeus quanto à União Europeia: nem um escândalo de corrupção os consegue galvanizar a agir de modo nenhum.
No Parlamento Europeu desenvolve-se um trabalho importantíssimo e, como qualquer instituição democrática deste calibre, torna-se alvo de grupos de interesse com bolsos fundos
Exceto, talvez, na Hungria, onde a recentemente criada conta de Twitter de um tal Viktor Orban publica um “meme” onde ridiculariza o PE que constantemente o acusa de corrupção moral e totalitarismo quando eles é que são os corruptos. Claro que estas notícias servem para galvanizar os recantos da UE mais marginalizados e ainda crentes na sua hostilização por parte da UE, apesar do desastre do Brexit. Isto deixa-me profundamente triste porque, mais do que como acontece com as nossas instituições democráticas a nível nacional, a nível Europeu o cidadão comum não podia estar mais desinteressado, aborrecido, indiferente e ignorante perante o trabalho diário que lá acontece.
Os Qataris e Marroquinos pelos vistos reconheceram-no. Isto só prova que no PE se desenvolve trabalho importantíssimo e que, como qualquer instituição democrática deste calibre, se torna alvo de grupos de interesse com bolsos fundos.
Em consequência de toda esta história, a Presidente do PE, Roberta Metsola, já indicou que iria mudar muitas das regras do PE, inclusive banir grupos informais de amizade internacionais e uma remodelação geral às regras de Lobbying. Uma posição que julgo ser adequada e surpreendentemente ambiciosa para o tamanho e peso do PE.
Por fim, regresso à figurante principal do escândalo: Eva Kaili, que nos últimos meses tinha falado publicamente a favor das leis laborais do Qatar, que liderou esforços de votações favoráveis a estes países no PE e que, mais recentemente, foi retirada, por unanimidade, do seu cargo.
Reparei que as reações a este escândalo, ainda assim, foram atenuadas e tomaram um significado diferente na opinião pública com o fator de que esta ex-eurodeputada tem uma boa aparência.
O que significa para a causa feminista quando é desprezada a participação das mulheres na política à direita como Assunção Cristas, Georgia Meloni, Theresa May ou Liz Truss (antifeministas) e quando, em simultâneo, as massas toleram subconscientemente falhas graves nas nossas representantes (neste caso de esquerda) por causa de uma razão tão primitiva como a sua aparência?
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