O problema da erosão costeira tem vindo a crescer a um nível alarmante. 20% da costa portuguesa encontra-se em risco e a tendência é para agravar, devido às alterações climáticas. Ao longo das últimas décadas, o areal tem sido cada vez menor e o mar galgou zonas de ocupação humana. Carlos Coelho, professor e investigador da Universidade de Aveiro, defende que se contrarie o défice sedimentar, procedendo à “alimentação artificial de areias sempre que possível”. Por Joana Rita Cirne.
Os efeitos da erosão costeira em Portugal estão pouco a pouco a atingir cada vez mais as zonas da costa com ocupação humana, principalmente a região do litoral de Ovar. Embora sejam tomadas medidas relativamente a este fenómeno, a situação continua a agravar-se.
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), estima-se que, entre 1958 e 2021, devido à erosão costeira, se tenha perdido 1320 hectares do território continental português, o equivalente a 1320 campos de futebol. Atualmente, cerca de 987 km, que compõem 20% da costa portuguesa, apresentam tendência para a erosão.
A região de Aveiro foi durante muito tempo uma zona de fixação de sedimentos. Neste momento, o mesmo já não se verifica. Existem diversas causas que se podem apontar para o problema da erosão costeira. “A importância destas causas varia de local para local, pelo que é difícil hierarquizar. Contudo, no litoral de Ovar, a grande responsabilidade resulta da redução de sedimentos provenientes dos rios a Norte, nomeadamente o rio Douro” explica Carlos Coelho, professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro e especialista em Engenharia Costeira.
As barragens que impedem os sedimentos de se deslocarem para a zona costeira, a retirada de sedimentos dos rios e das praias para comercialização, assim como as dragagens que dão origem a canais artificiais, são algumas das causas que se relacionam com a intervenção humana. Para além disso, a construção de obras de defesa costeira impactam muitas vezes negativamente as zonas vizinhas, do mesmo modo que a construção sobre as dunas destrói uma defesa natural bastante importante.
A subida do nível do mar permite o avanço da linha da costa: “Estima-se de forma simplista que por cada centímetro que o nível médio da superfície do mar sobe, a linha de costa recua cerca de um metro", conclui o investigador. Os ventos persistentes e a agitação atmosférica característicos desta zona, resultam num desgaste da costa e em “ondas mais altas e com rumos provenientes de Norte, aumentando a capacidade de transporte de sedimentos de Norte para Sul”.
As pessoas que, no seu quotidiano, observam o progresso da linha da costa vão-se apercebendo da sua evolução. Tendencialmente, estas pessoas, concebem uma opinião sobre o recuo do litoral, na qual questionam as medidas (ou a ineficácia de medidas) e propõe soluções, aliadas aos seus interesses (estes divergem, muitas vezes, entre autoridades, pescadores ou moradores). “Esta erosão é considerada um problema, já que coloca em perigo bens e infra-estruturas e o próprio desenvolvimento humano ao longo da costa, mas na realidade é simplesmente um processo natural de redistribuição de sedimentos”, afirma Carlos Coelho.
Para o investigador, a relocalização de populações é uma situação que envolve uma análise bastante complexa, tendo em conta que está associada a aspetos sociais, culturais e históricos: “Na avaliação da relação entre custos e benefícios da opção, se os custos de proteção superarem o valor do património a proteger, faz sentido pensar em relocalizar”.
No duelo constante entre o mar e a terra, o primeiro tem sido, nos últimos anos, o vencedor. Como consequência, verifica-se o recuo da posição da linha de costa. Em 2014, o bairro dos pescadores de Esmoriz, no concelho de Ovar, acabou por ser apoderado pelo mar. 50 famílias viram-se obrigadas a sair do seu lar e a ser realojadas mais para o interior.
No caso do Parque de Campismo de Cortegaça, “recuar” é a palavra que mais ecoa entre os especialistas. Após uma década de galgamentos marítimos e sinais de inevitável erosão, que deixaram marcas de destruição, relocalizar o parque acabou por ser a única alternativa. O projeto baseia-se num recuo de 600 metros do parque, assim como na ampliação da praia, que sofre com o défice sedimentar.
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